Ficava parada, como se no ar, como se aquilo fosse a ponta de todos os sonhos que roubava de mim. Podia ser apenas imóvel, como se no chão, como se fosse quem roubava o sono de todos os meus sonhos que só sabem chegar acompanhados do orgulhoso toque do despertador. Da tua mão esquerda fiz meu anjo inexperiente, fiz meu acaso sem relógio, fiz meu riso amarelado. Fiz tanto que acabei sendo o ser humano que mais fez, mesmo sem ter feito absolutamente nada além de deixá-la acreditar nas coisas que por fim serão verdades universais.
Acordo cedo, tão cedo que esperança quase não há de ver seu cabelo arrumado pela noite me sorrindo aí do alto, me pegando com a mesma cara de surpreso que faria ao ver quadrados rolando de rir de esferas imóveis nas descidas curvas dos meus pensamentos. Voltaria por inteiro para tua metade, ou pela metade pro seu eu hoje mais completo; sentava na rua da tua janela e lembrava do teu charme no meio fio, desse teu abraço no banheiro cheio de ódio no sorriso.
Eu ainda me lembrava de te lembrar, me lembrava dos seus presentes sem sentido e fora de hora. Por fim, na carteira só o isqueiro, na garrafa só a tampa dobrada, na tua saudade a concha que te deixa por aqui, mesmo que não saiba. Se tudo é diferente, te fiz igual aos anjos pra poder não ser o mesmo de tudo que ainda virá; me fiz único para ser o protegido dos teus olhos castanhos de unhas pretas.
E você ainda se lembrava de me lembrar, me lembrava da vontade de deitar aí de baixo mais uma vez. Só mais um pouco antes de eu ter que ir lavar a louça do almoço, antes de abrir a porta e te ver no sofá mais uma vez.
‘’Digo que sempre estou com você,
super natural. ’’
Chave de Ouro - Primos da Cida