domingo, 11 de julho de 2010

Luminosa

Queria que você não mudasse por nada. Que o teu jeito de ler não te desse arrepios, que a forma como brinco de ser brincado por você não conseguisse mudar todos os pormenores que desenham seu amanhã. Ser inútil, ser vital e sem utilidade nenhuma em te fazer mais ou menos dessas dúvidas, que mais do que qualquer coisa, lhe são. É que deitado assim no seu colo eu consigo ser a mesma pessoa que discute no estacionamento, que abre a cerveja de má vontade na frente dos amigos, que se pergunta por que diabos você faz tudo que me pede pra não fazer; é que deitado assim no seu colo eu consigo ser você, consigo sentir minha cabeça em teus dedos, o seu sorriso no meu olhar, o teu corpo pelos meus beijos. Se mais nada existisse, faria questão de deixar o mundo completamente vazio.

Quero menos do que vejo, e se quisesse mais, com certeza não me contentaria com o que só ouso chamar de pouco. Um dia você me mostrou um eu que até hoje não sei onde mora, e que do telefone mal sei a operadora. Sei que te vejo achando-o cada vez que entro sem jeito pela porta da sua casa, toda vez que levanto sem jeito do chão da sua sala pra sentar ao lado do teu perfume, toda vez que me sente desse teu jeito sem saber que não sei se sou o nome que sussurra em meu ouvido. É que já faz tanto tempo que não dá mais tempo de mudar, e por vezes não lembro com que pernas eu andava por esse caminho sem sentido.

Por já sermos, não queria me preocupar com validade nem com regras de bom uso. Só nos faltou inventar um manual de instruções que me guiasse por entre as peças das tuas roupas, todas as vezes que te querer ao meu lado foi o gêmeo dois segundos mais velho do não te querer mais. Preciso, e vou precisando tanto que por vezes a vontade consome todo meu desejo. E de você não sobra nada, e de você nunca houve tanta coisa. Nessas horas eu te faço tão relativa que já não sei mais quem é quem, quem é o quê; mas ainda assim me surpreendo com as coisas que já passaram da hora de acontecer.

Agora sei que concorda, sei que sorri quando olha pra sua tv vazia e vê que mais do que ser mais, eu sou muito menos do que dizia ser. Tanto quis não ter nada, que agora sinto falta de ter algo pra não querer. Só não fique assim, digo pra mim mesmo quando literalmente vejo os sonhos que nunca tive perdendo a chance de se tornarem meras ilusões; pela primeira vez, e apertando as mãos ecoaria essa certeza cá dentro até que você acorde desse teu sono sereno de leveza.

Nunca foi nada, nunca foi ninguém, e na verdade ainda não é nada e continua sem ser ninguém. Só sei do meu amanhã, que é tão agora como todo o nosso passado.


Me beija?

Beija-me!

Te quero assim, desse jeito.

Quero-te assim, e hoje não!

Faz-me rir, querida.

Pelo menos uma certa, né?

...

Te amo, cara.

Eu também.