Cru, tava meio mau passado do meu passado, ainda longe do ponto de ficar ao ponto do presente. Cheguei assim, fiquei chegando muito tempo ainda sem saber como chegar, e fui indo pra perto de mim de um jeito que nem de longe conseguiria ver; que nem lá de longe, que nem lá bem de perto do meu Deus eu iria reparar. Demorei pra me acostumar com teu nome, demorei pra me acostumar com o jeito que teu olho direito se faz esquerdo pra mim. Demorei do jeito mais rápido até então inventado, e de repente, não mais que o de repente de Vinicius de Moraes, me vi. Por inteiro, por inteiro problemático e sem nenhuma resolução, mas como um que sente, como um que é um qualquer assim como todo o resto do mundo tem o direito de ser um qualquer na sua exclusividade inabalável.
Eu sei que sim, e não precisa nem atravessar a travessa pra que eu vá sabendo cada noite um pouco mais. Vou virando as esquinas, aumentando meu volume pra esbarrar no botão da tua sintonia, e acompanhar de uma vez esse teu andar folgado; fazer do teu riso de mulher, que é acabamento para o que merece acabar de tantas formas que não esta, o fim das minhas frases longas e cheias de mãos no bolso. De diferente tem as diferenças que todas as outras têm, e faço do que sobra dos meus olhos o lápis que te desenha assim do meu lado de cá, de onde mais sei pensar do que dizer. Desse teu susto na porta do banheiro eu dou a risada que falta, dessa tua seriedade eu faço resposta, e assim me pergunto se tudo isso terá hora certa de ter a hora certa. Se não, vou me virando por aqui mesmo, vou me virando pra ver se do outro lado encontro o que me falta nesse você que sobra em todos os sentidos.
Mais do que passar como tudo, tu vai marcar como nunca; deixar aberta por um pra sempre relativamente grande a possibilidade de ser qualquer possibilidade qualquer. Se dos meus fins iguais tiro os começos diferentes, te pediria pra que voltasse pelas bandas de cá de noite, que levasse embora pros teus dias calmos de mansos os sonhos que me dormem cá de noite, que guardasse no teu guarda roupa de sorrisos sérios teus sorrisos sérios que me acordam cá de noite, que só me vivem cá de noite pra me fazerem sonhar pra lá dos dias. Não estranhe, não faça nada que não seja se arrepiar nos instantes que seus olhos ultrapassarem a velocidade da luz, e que finalmente você se dê conta que leu demais pra tempo que já não volta.
É, e que minha exclamação sozinha e tônica seja como um eco destinado a não ter irmãos gêmeos tardios e longínquos no abismo do teu silêncio.
Nas tuas mãos trêmulas penso tanta coisa, no rascunho do teu traço imagino o final de toda essa arte. É justo isto o mais bonito, e com toda a certeza deste mundo injusto, espero. Sabe? - te perguntaria uma hora qualquer, numa carona que se fizesse qualquer -, você acabou deixando tudo aqui pelo lados de cá. Quando quiser buscar, pode vir! - diria eu num dia qualquer, num copo qualquer cheio de todos os assuntos. Já leva tudo, tudo isso que é tão igual às vezes, tudo isso que me enche o saco de tanto personagem pra pouca história.
Não diria ele. Não diria.