domingo, 22 de agosto de 2010

Osório

Osório deve ter sido alguém muito importante. Se não fosse importante não perderiam tempo plantando todas estas árvores, deixando todos estes bancos perfeitamente alinhados pra quem quer que fosse se sentar por aqui. Por vezes penso as coisas de um jeito que não condizem com tudo que falo, mas paciência, já que Osório realmente foi alguém importante, foi alguém de guerra que não pensava em se tornar praça depois de morto. Ele nem devia pensar em nada disso. Talvez só quisesse passar o resto dos dias sentado em uma praça que tivesse algum nome que não Osório, ver todas as histórias diferentes que se tornam iguais por serem histórias de praça. Aliás, penso muito na possibilidade de todas estas histórias que acontecem por aqui terem esperado por aqui. De noite, principalmente nas noites de quase lua cheia, tanta coisa acontece nestas sombras apenas pra poderem acontecer de verdade em outro dia qualquer. É como se fosse uma espécie de ensaio, um ensaio sobre todos os improvisos que vou vendo pela armação das minhas lentes. Depois que acontece, acontece. Muitas vezes não existe nem sombra, nem reflexo que lembre. Acontece pra acontecer o depois, pra todo depois ter direito de ser agora, mesmo que ser agora seja mais rápido que o arrepio, seja mais rápido que aquele beijo que demora tanto pra acontecer.

Não sei se quem passa vai parar, se quem passa sabe onde é que vai parar. Acho graça em todos os olhos esperançosos de sexta feira, nas ruas vazias com ar de trabalho cumprido. Ninguém pensa na segunda, e por isso acho que a segunda é a única solteira dos sete dias da semana. Se fazem três casais quaisquer, mudam os dias sem mudar nada no tempo, e fica a segunda sempre pra segunda, completa consigo por não ser completa com ninguém. Assim ela vai, assim ela é. A segunda dos seis dias. Tem tanta gente com cara de segunda que nem se imagina, que eu nem imagino.

Quem fica aqui fica por querer estar em outro lugar, às vezes lá longe, às vezes tão perto que atravessa a barriga com o frio de Curitiba. É tanta coisa, tanto lugar, que praça vira tudo mesmo sendo só praça. Praça vira saudade, vira esperança do que não veio, vira esperança do que ainda não veio de novo. Árvore de praça fica perto lá de longe. Fica tão perto quanto sorriso de bobeira, sorriso de nariz colado atrás da casa da dona da casa. Maçã roída no chão vira maracujá, virão teus lábios de maracujá no tempo que os olhos conseguirem não piscar. Por fim, por pouco, por nada, por você. Cada um com seu você, cada eu com um pouco da luz desse teu sorriso maravilhoso.

Osório sabe. Você soube, sempre soube muito bem. Ainda não tenho nada pra dizer, e mesmo assim quero continuar falando pra tua atenção. Amanhã Osório dorme de dia, esquece de tudo pra não perceber saudade quando lembrar do teu cabelo diferente, da tua mão na outra na maciez da tua inocência.


Onde Vai Parar - Sabonetes