quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Um ano, cara!

E ele ligaria pra ela, como quem não quer nada. Iria perguntar como as coisas estão indo, disfarçaria muito bem antes de chegar onde há tempos não se encontram. Nisso eu estaria em casa, ouvindo o que ela já conhecia de outras bandas, de outros fantasmas. Ele romperia a risada estranha que ela tem, respiraria fundo pra fazê-la entender o que já sabiam desde antes mesmo o telefone ter tocado; acho que ela se afundaria mais naquele mundo de almofadas, de relance pensaria em mim, e suspirando responderia o que eles já sabiam antes mesmo de pegarem no telefone. Eu? Estaria como que calmo, alguém que vai de cidadão em cidadão na própria casa.

Creio que não se veriam, mas ele aproveitaria o silêncio pra imaginar um possível reencontro; ela já estaria de olhos fechados, sem sono. Sei lá como seria! Não tenho a mínima idéia da cara do sujeito; não tenho a mínima idéia da cara que ela faz quando sua metade é ele; como ri quando ouve as piadas de alguém que nem sei se é engraçado; como beija quando beija alguém que não sei se ainda existe. É assim na verdade.

Depois não me parece algo fadado. Sei que ele não desligaria, mas a atitude dela me parece tão incerta como a incerteza do cheiro do novo sabonete na pele, ou de como fica o perfume de sair na nova camisa de gola. Acho que levaria em conta a possibilidade de outro alguém ligar, aí faria voz de quem tem compromisso, e ele inventaria voz de quem por pouco não perde a hora pra fazer nada. Um ‘’até mais’’ meio seco e meio molhado, e acho que só. Registro no celular como beijo de despedida, e acho que só.

Dali a pouco ela chega à tristeza. A novela fica sem cor e de novo lhe sobra a cama, mas dessa vez sem ninguém. Eu? Eu parado, eu longe de muita coisa, longe do perigo maior; eu do outro lado esperando a minha hora pra ligar.


‘’E no final assim calado, eu sei

que vou ser coroado rei de mim. ’’

De Onde Vem A Calma – Los Hermanos