sábado, 3 de setembro de 2011

Despertar

Sonho com os rios das águas mais calmas, dos mares mais doces que abrirão meus olhos pra luz que vier de lá de dentro. Sigo nas asas mais do que leves, mais do que essenciais que me levaram sempre ao topo do meu castelo infinito e estrelado. Ser pleno é deixar pra trás quem fui, é se deixar pra trás mesmo cheio do medo que trago no peito. O caminho é um, o passo é outro. Nessa caminhada de passo leve é que o sereno leva a chave da verdade, deixa a pegada na areia que leva quem procura até a paz que sente.

Sinto a vida encenação sincera, teatro mágico que representa o maior partilhado em cada personagem nosso. Vão-se os atos, vão-se as falas, e no silêncio sobra apenas nossa luz que dispensa holofote, que é perfeita na singularidade do um que também é o outro. Desfazer os laços que não nos deixam voar, as amarras delicadas que nos prendem ao degrau que paramos na escada que transcende nosso ser.

Tua falta assusta, a vaidade assusta, e chega a morte e gela. Mas se sinto ser pleno esse instante, se acredito de fato que esse segundo que me passa antes mesmo de notar é o que busco, então não sei. Encontro em gestos, em mãos raras que afagam não só os raros, em tudo que liberta a mente e preenche o que o pensar nunca deixa vago. A busca é calma, tem o mesmo som da metade perfeita do arrepio quando inteiro. Despertar pro eterno é dormir sem medo pro fomos.

Que o fim não chegue nunca, que o caminho não tenha fim e nem limite. Que o sereno da alma seja calmo, que seja vindo dos nossos passos tortos pelo caminho que é perfeito.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Life on Mars

As pessoas passam. Lá de longe são quase pequenas. Somem em árvores, em muros que encaram minha janela. Não sei pra onde vão, nem mesmo se ainda as são quando voltam quase não tão pequenas quanto antes, indo embora no mesmo tempo que resolvem voltar. Quem sabe pra quem foram, pra que voltam enquanto poderiam ficar consigo mesmas, entre aqueles muros e árvores. Ir pra frente sempre soa melhor do que voltar. Outras pessoas, e talvez de lá eu também passe e volte, ainda que parado na minha fumaça, mesmo que ainda comigo, deste lado da calçada. Daqui os passos têm som das gotas de fim de chuva.

Quando concentro minhas ideias, quando consigo perder meu olhar na luz doente do poste, volto como que lembrança desavisada, puxado pela mão de criança que solta da mãe pra atravessar as avenidas de outros tempos. Se fosse um filme, me imagino sentado em uma sala de paredes brancas, em frente a um quadro que se mexe conforme a pintura que o encara, que separa duas calçadas de olhares eternos e intermitentes.

Tenho medo, avanço o sinal. Impulso é vontade virgem, desejado pelas ideias que moldam pra ter seus segundos diante dos olhos, como peixe que surge no aquário de assim, de passe de mágica.

domingo, 29 de maio de 2011

Hard Sun

Tenho na dúvida olhos atentos, retrato esse de quem me vê detalhado de teus próprios traços, seguro da minha ausência no vivo do teu gesto. Não quero perto por ter sido longe, e sim por não saber a distância disso tudo até a manhã de amanhã que me arrasta de você. Se nas horas que mais se precisa dizer houvesse uma palavra - qualquer que fosse uma essa palavra -, ouviria com calma o espaço que sobra, todo o muito que é parte agora de teus segredos, qualquer que fosse minha essa falta, qualquer que fosse de ti a calma que repleta minha paz. Faço assim hoje: não te trago cá agora. Sei do completo que é ser perto na distância do outono, na paixão da música que tanto espera, que tanto espera a última vez de ser ouvida pela primeira vez.

Quero que neste espaço que ocupa haja teu e só teu o teu espaço, haja teus vícios que desconheço, tuas boas lembranças que faço vivas, onde saiba sozinha ser tão minha como são as palavras de quem ainda não sabe: devotas e eternas, mesmo que apenas pelo enquanto que logo passa. E quando sinto do fundo da minha alma a falta de algo que de certeza nunca terei, te empurro pra longe pra continuar sendo só tua eternidade a busca pela qual disponho minha vida, ainda que sem querer, ainda que na inocência de quem vive pela mansidão da saudade, por não ver mal em andar de costas e agradecer por tudo que é.

De fato que agora não preciso de nenhuma garantia, de coisa alguma que não essa brisa que de nada lembra calma, que de nada amansa o descompasso do nosso peito, essa busca da certeza na desordem do tempo do acaso. Que soubesse sair. Que de fato, agora outro, houvesse mesmo esse grande sol, batesse em quaisquer que fossem os claros os olhos, de berço livres do tempo do nosso tempo, da descalmaria de logo as sete, de logo que me ergo no alto desse andar cabisbaixo, orgulhoso que é dessa pressa que deposito na tua estrada que sinto infinita e destinada.

terça-feira, 29 de março de 2011

Primeiro Passo

Levanto os vidros ainda com a chave virada, de pensamento acelerado. Pego a camisa, fecho a porta e bato o alarme que ecoa. Mão na tranca, pé cravado no sapato. Ainda que imóvel, sinto minha vontade subindo tuas escadas, abrindo tua porta e indo embora antes mesmo que tu mudes de propaganda. Só sigo teus rastros pelos corredores, ó vontade, que acabam quase depois que chego ao andar daquele sorriso, quase depois que largo meus olhos ao chão, junto àqueles que antes voavam no meu olhar. Não importa o quanto eu corra, o quanto tropece: só acho teu rastro, ó, tal vontade, que não mais sabe me encontrar, me contar das coisas que vão ficando por tudo que não eu.

Ainda que queira que saibas que foi de verdade, que foi talvez a única coisa passada que ainda passa da minha cabeça, transcendente do meu silêncio, não cobro de ti certezas que de mim já não espero; e assim te olho toda semana, de diagonal daqui do fundo da minha vida, de baixo que se torna olhar o alto que tu tornaste-se. Isto pra que essas borboletas da minha barriga voltem de vez lá pra Macondo, pra que tu deboches sem se esquecer que ainda tens o mesmo riso, aquele mesmo que ouço de quando em vez, de olhar ignorado pelos teus olhos tão lindos que só são por ainda te serem.

Se me perguntas o porquê, se me de pedes razão por passos quase irracionais de tão certos, digo do meu sonho em acreditar que a cicatriz não é lembrança da dor, mas permissão em olhar teus tais olhos de mar bravo, que me arrastam de leve nas madrugadas, que me arrancam de ti qualquer que seja a ressaca do amanhã. Se pra sempre for de assim, a lembrança de tudo que foi único nas nossas várias singularidades, me pergunto qual é a razão de não me jogar de vez naquilo que nunca soube sair, desse você que não posso e nem quero deixar que abandone.

Só não quero perder, tornar tempo perdido todas as estrofes, todas as páginas que encarei como tradução do vazio que você de simples não sentia. O que ainda me encanta é esta sombra de entendimento, de luta contra tudo que parece ser teu vício, ser tua entrega degenerada e sincera. O que me move é esta inveja, curiosidade de descobrir de fato o teu silêncio, o destino dos teus olhares sinceros, dissimulados de tanto que os sei dos meus ensaios dessa tua saudade.


"Quase Sem Querer" - Legião Urbana

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

17:12

Chega tua hora, já ansiosa de tanto esperar outras tantas 23, cheias de outros tantos minutos que só a demoram de ti. Já logo não farei mais ideia, e vou deixar ir embora todo esboço de caráter teu que julgo daqui, de baixo desse olhar vivo, lindo que é de cansado que o imagino. Da beira deste abismo de alguns passos, que faz graça do meu silêncio quando te esbarro do outro lado, tu não ouve nem o eco de quanto te penso, de quanto te faço bem na calma do meu marasmo.

De certo do certo que é tua vida, do peso na tua mão direita já quase esquerda, não faço ideia de porque tu segue meus olhos, desavisados assim, inocentes assim da tua inocência amarga de quase doce. Gosto mesmo é desse segredo escancarado, que diz tudo, que entrega tudo ainda que não haja nada pra contar, nada pra ninguém ouvir.

Sobra tua cadeira, cheia do contorno das tuas costas, do teu jeito de ser esse você que desconheço, que invento por saber gostar tanto assim de imaginar. Finjo não saber , pra que finjas não saber das coisas que só sei saber sozinho.

Depois, é só vazio desse você, que de às vezes enche o céu de por do sol, de espetáculo de estrela que dorme pra voltar de esplendor, assim como és. Qualquer dia seguro meus olhos nos teus, pra ver pronde diabos vão quando me fogem, pronde é que vou pra buscá-los quando tua falta me bate assim, quase perto de 17:13.


‘’Tem mais eus dela em mim,

e nada pra mudar’’.

Me, Mandy, Sempre - Suéteres

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Dois anos, cara!

Atrasado. Dessa vez, ela não ligaria.

Tu ainda faz!


O Velho e o Moço - Los Hermanos

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Imediato

Seria então outro pedaço meu, cunhado por fora como uma cicatriz das certezas de cá de dentro. Não haveria mais dúvidas, já não mais sei das minhas certezas. Este braço direito regeria o tempo e tom dos meus passos, que um dia em vão, seriam em mim o que por hora ainda sou. De forma alguma tiro as intempéries da minha vida, e nem mesmo posso querer a paz que tão longe fica do desassossego da boca tua, tão minha como a de tantas outras em que achei gosto não te achar.

Quem sabe aja mesmo tempo pra passar tudo de jeito diferente, de jeito qualquer que seja lá longe daqui dentro. Quero mesmo é me mudar e continuar sendo: ser o de outrora que um dia sei que virá. Como aprendo a de todo me soltar, torno parte minha o que quer que seja; deixo de ser, ainda que deixe de fazer sentido. Por conta disto é que minhas medidas já foram tiradas, meus acentos postos em minhas noites tônicas; de jeito qualquer não acho mais jeito, qualquer que seja a forma que abraço estas lembranças. Difícil é tornar certo o que embarca apenas como passageiro.

Já passou. Vejo agora que só sei mesmo ver quando tudo passa a ser passado, e assim trago comigo a passividade daquele que olha calmo pro outro lado da praça. A minha saudade talvez não seja tudo que tenho, mas sim o que sei – mesmo que só saiba saber antes da hora. Que tudo venha!, sim, que tudo venha rápido! Que os holofotes dos teus olhos ceguem mais do que iluminem. Quero o agora porque o depois só chega depois deste. Se não fosse assim, tudo isso não seria; se não fosse assim, não vejo sentido pra que de fato fosse.


''tudo se divide, todos se separam.

a diferença é o que temos em comum''.

Novos Horizontes/Alívio Imediato - Engenheiros do Hawaii