terça-feira, 14 de setembro de 2010

Lugar

Até tento ignorar, mas literalmente ele não para. Talvez todas as minhas reclamações sobre sua pressa sejam o motivo para que fique ali: estático, indo parado. Se bem que agora não me importa. Sei que cedo economizo as preocupações do agora pra adiantar as de depois, e sentado na minha cadeira penso no caminho com menos cruzamentos só pra tentar adivinhar que horas levanto amanhã pela manhã. Vou trocando os pratos, mudando os caminhos, e vejo tudo ter exatamente tudo igual nas coisas que são tão diferentes. O tempo é um daqueles patrões chatos. Vai se escondendo por trás de seus empregados, não dando folga para os relógios nos darem folga. Comprou as coincidências, e agora administra os acasos com mão de ferro pelo quanto quiser. É tudo seu, e se ainda não é, provavelmente seja só questão de tempo, seja só questão sua e de ninguém mais.

Nessas dúvidas normalmente engato a quinta. O motor a setenta fala baixo pra não acordar o asfalto vazio, e a música que quero nunca é a que o rádio toca. Vou indo pra casa, e o que me encanta de noite é esse som de carro fechado que escancara minha cabeça. Tenho certeza que nada irrita mais o tempo do que não sabermos ao certo quando tempo as coisas têm; não consegue ignorar, e sei que atrasa meu despertador no outro dia só pra encher o saco. Se nem pra ele as coisas são eternas, acho engraçada essa sensação de quero mais em todo frangalho de arrepio que se ouve por aqui, que se cata por ali.

Reparo em tudo que andei antes de meus pés serem 42, e é estranho pensar que daqui pra frente serão vários sapatos para as mesmas pegadas de sempre. De vez em quando reparo que a maior parte dos culpados pelas minhas dúvidas foram inocentados, que as lacunas dos meus pensamentos já foram ocupadas há tempos por tantas coisas que já nem me lembro mais. Tudo vai tendo que ser ao tempo do tempo, e deixo estar às suas custas já que provavelmente ainda não seja minha vez.

Daqui da outra cadeira fica tudo diferente.