Eu não queria que ele me tivesse dito as coisas que disse, que tivesse feito promessas grandes demais para o pouco que tinha sobrado; mas mais do que fazer foi eu ter ouvido e acreditado que as tais coisas lavariam sua roupa suja na máquina de lavar ganha de presente de casamento, que depois dormiriam em um colchão de solteiro esticado na sala já que a loja pediu um prazo extra para a entrega da cama.
Só eu sei como sinto pena de mim por ter parado com os cigarros.
Ele não veio, e nessa história toda esta é a parte que mais interessa. ‘’Ele não veio’’ poderia ficar ecoando em todos os meios olhares que trocávamos, em todos os pensamentos que dedicávamos enquanto sorrir e balançar a cabeça disfarçava a vontade de sufocar a parede do banheiro. Se eu não soubesse do fim das coisas, talvez tudo até ficasse bem; se soubesse que toda vez que finge não me ver eu me lembro de como ele descobria o peito com o lençol pra depois pedir desculpas por se sentir tão pequeno frente à minha pose inabalável, frente à segurança que nunca mais terei com nenhum outro beijo recebido no nariz.
Tudo bem que eu nunca abri a boca pra dizer pra onde eu ia quando sentava por minutos na minha cama, tudo bem que sempre fiquei chateada quando ele sabia de tudo antes mesmo de eu abrir a boca; só não acho que isso seja suficiente para que de repente ele se cale, haja como se eu tivesse traído sendo que quem voltou sem avisar da viagem não fui eu. Talvez eu tenha me vista tão presa naqueles cachos mal formados, que o desafio de desatar os nossos simples laços foi mais forte que simplesmente deixar as coisas irem pelas próprias pernas.
Sozinha assim eu não sou de todo mal, eu sinto. Sei que pensa em mim todas as noites, que desliga o celular todas as noites antes mesmo do primeiro toque pensar em bater na porta dos meus sonhos estranhos. Tento me apegar nos vinte dois motivos que ele deixava em suas entrelinhas pra mandar tudo pro fundo desse silêncio sem sentido e sem complicação; mas no décimo terceiro eu apenas paro e olho pra minha mão direita, vejo a minha coluna arrepiada de olhos fechados e meus abraços que de delicados nada tinham.
E assim ele já está tão aqui que eu não preciso nem buscá-lo na portaria, não preciso nem me preocupar com sua fome já que sei que tudo que suas orelhas precisam é beijar meu peito descoberto, é beijar meus sussurros meio mansos, meio inquietos. Se ele realmente tivesse vindo eu provavelmente não precisaria desamarrar as coisas que insistem em se entrelaçar, eu provavelmente nem repararia que pensar é descer escada rolante pra cima, entrar na porta engraçada do banco de olhos fechados pra nunca mais parar.
Ah se ele tivesse vindo! Ah se eu não tivesse parado com os tais cigarros!
‘’Not unless you stay.’’
Little Joy – Play The Part