Não falar nada e apenas sair andando talvez tenha sido o troco pra dívida repleta de juros que não corrigia nada. Fiquei, até pensei em sair correndo atrás, senti seu tapa na cara e o empurrão sem jeito no peito e não fiz nada. Tempos depois pensei como me acharam idiota os que passavam pela frente do quiosque e encaravam o mais novo poste do calçadão, parado como todos os outros irmãos de cabeças luminosas. Devo ter ficado mais de dez minutos imóvel, sem pensar em nada e vagando por entre as pegadas que teus pés iam deixando no caminho pra longe da minha luz. Se você tivesse esperado, se tivesse quisto não querer acreditar nas coisas que ouvia da minha boca cheia de sinceridade e de dentes não tão bem escovados, talvez ficasse até um pouco surpresa, talvez chegasse a esconder o rosto nas mãos antes de deixar a bolsa no banco e sair andando pelas beiradas da minha boca. Se você tivesse esperado seria tudo seu, seria todo seu e de mais eu nenhum.
Eu não te peço pra entender, me viro com o que sobrar e faço música se resolver tirar de mim até o teu silêncio; do teu desgosto eu faço tempero, sirvo o lugar vazio na mesa com seu prato preferido e brindo a mim o que por muito tempo permanecerá sendo. É que se soubesse o porquê de cada uma delas, se soubesse que dividir o teu amor era mais certo do que ser um só, quieto; mas não tem jeito, e não ter jeito deve ser o destino de muitas das coisas. Do mais é protelar, é levar pra tempo extra o que o 43 do segundo tempo resolveria sem mais problemas.
E quando não me sobra mais nada na cabeça, coloco as mãos na nuca e desejo com todas as minhas dores no peito que você queira tanto quanto eu saber mais do que só a minha primeira frase. Viro de lado e faço força pra voltar pro mesmo sonho, pra ver se depois que minhas letras entrarem pelo teu ouvido você vai ficar sentada e pronta pra me odiar um pouco mais.
Mas não é assim, e depois de conseguir piscar, sentar com meu cigarro e subir meus olhos pro alto daquele prédio foi o que sobrou. Eu não tinha a mínima idéia se ela estava em casa, não me preocupavam os pivetes que passaram pela segunda vez e colocaram a mão no bolso em sinal de respeito ao que tinha acontecido. Eu só sabia que queria ficar por ali, me confessando quieto com a certeza de que a mão dela na minha faria repensar se tudo aquilo valia a pena.
Longe dela, aqui de baixo no topo do egoísmo, gosto daqueles olhos mais do que qualquer outra coisa; amo a empregada daquela casa mais do que a dona da minha mão direita pelo simples fato de abrir as cortinas e me fazer varrer toda a calçada muito mais rápido. Do meu lado ela vai embora, do meu lado eu faço ela ir embora.
Sim, eu ainda estou aqui.