lembro do incômodo no nariz. te
falava, te fazia questão nos seus olhos
que pareciam achar saber qual é que era o mistério de meu planeta, tão nosso
que acabava sendo só e meu. lembro do meu bolso ficando vazio de minha mão, da
lua que fica em volta da lua nas noites de lua cheia estampada logo no canto de
seu dente cor de alma quase pura. deve ser por conta desse ar que vai ficando
mais seco, desse ritmo que vai deixando a gente à cada chuva mais seco, mais só,
mais cheio da gente e ponto. essas coisas de corpo mágico, infinito, porém
sensível à qualquer coceira no nariz, ainda que coce justo frente à sua frente que
tem cara de alívio, como aquele comichão que dá nas costas logo na beirada da
porta quando o braço não chega, quando o outro braço não chega nem pelo outro
lado. talvez seja como se o incômodo fosse mesmo pra sempre ser, até que de
tanto ser estranho se tornasse parte, de repente, de susto mesmo, com a mesma
realidade do teu rosto sobreposto ao meu em cada espelho que resolve nos
mostrar-nos só pra mim, que também já é nós
sabe-se lá desde quando, desde que dia que passei a sermos mais que apenas ser
só.
é que tem tanta coisa por aí
afora, nem que seja mesmo pra serem deixadas por aí, do lado da sua cabeceira
despregada, naquele espaço entre o criado mudo e o guarda roupa onde ficam
largados teus sapatos, que dá vontade mesmo de deixar tudo pra trás. tirar esse
peso das responsabilidades das coisas que tão bem nos fazem, acabar indo de vez
pra tudo que fica do lado de fora, que tão bem ficam jogadas meio ao lado de
seus sapatos. é como se tivesse me esquecido, e agora, quando a saudade grita
por qualquer pedaço de lembrança, não sei se pela insensibilidade dos olhos ou
destreza do coração, vejo sem sentir o que antes chegava sem que perceber fosse
preciso. confuso, mas até certo ponto ordenado. até acerto o jeito, mas não tem
santo no pescoço que dê a hora, e assim acabo correndo de você pra chegar logo
de vez em mim, mistura ímpar que nem nesse nosso passado inventado sabe me vir
aos olhos fechados.
novos baianos - mistério do planeta