Entre nós ninguém diz nada, mas acredita-se, por uma razão lecionada apenas pela gente, que de tudo já se sabe antes mesmo da chave conseguir torcer a fechadura. Qualquer coisa sem limiar, sem chance de ser que não deixar de ser pra ir de assim, de fórmulas ditas, de caminhos que não levam pra lado algum que não o teu lado longe do meu, de perto do nosso. Mínguo tudo que quiser ser cheio, encho teu vazio repleto de pensamentos que só me são quando comigo, mas que ainda assim não nos dão vontade maior que nossa maior vontade na hora do até mais. Pelo visto vai passar o tempo todo de um jeito um pouco diferente, quase sem tempo pra saudade que tinha, que tenho dos teus cabelos prendendo suas mãos meio soltas, meio presas das tuas responsabilidades que só vão embora quando você me sente mais seu do que sou.
O que importa não é a parada, mas esse teu jeito de tornar começo qualquer fim que trilho pro teu perfume no meu dia. Vou me deixando ser levado pelo frio que te anuncia aos meus ombros, teus dentes de sorrisos de canto. Rio da tua vulgaridade em querer que eu embale seus olhos lá pra longe, seus pensamentos pras bandas que deixaram de ir quando amores incondicionais não lhe faziam sentido. Contigo tudo é fácil demais, tudo é certo mesmo sendo errado e contrário. Quem sabe ninguém nunca tenha dito sobre teus detalhes aparentes, passado noites em claro olhando pros teus jeitos que ninam quando encontram meus dedos. Nem por isso sou mais, nem por isso sou menos que a ponte que te leva de volta pra essa saudade que tens vergonha de assumir. Você ainda é, e só sabe ainda ser quando te digo pelos cantos qualquer coisa assim de sol se pondo.
Faço questão que meus fins não coincidam com outros começos, e deixo assim, sem resposta. Ir de encontro me tira a vontade de te esbarrar por qualquer corredor, ver de relance suas costas que me viram de costas pra tudo que não teu cabelo amarrado engraçado, de olhos nos meus olhos te seguindo cá pra perto. Digo daqui que ouço tudo que me diz desse teu outro lado que não conheço, que dispenso por saber que já te sei por inteira; falta a metade pra essa tua vontade que é metade minha, que te é inteira.
É que quando chega de manhã eu quero que tudo vá embora, que me volte só pra de noite quando a falta de sentir falta começar a não faltar. Fica só teu beijo, doce de pamonha que invento pela noite pouco antes de dormir; e como quem tem a folha marcada pela ponta do lápis sem ponta, só sei lembrar que esqueci do que pensei, do que tive da gente quando te ter não era sonho no meu sonho.
Quicksand - Seu Jorge