segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Rise

... daquelas vezes em que eu só queria ficar quieto, e só ele entendia o meu porque.

ele acordou, tomou seu banho e saiu com a música no ouvido. hoje, mais do que nos outros dias, fazia questão de parecer sereno e despreocupado toda vez que percebia estar sendo olhado por alguém. no ônibus, abria o livro e passava as páginas sem fitar mais do que duas ou três frases; e a medida que a pessoa do lado se levantava, seus olhos a acompanhavam até a janela, para por lá mesmo ficar até alguém reocupar o lugar vazio.

sempre soube que agia assim. e toda vez que recebia elogios, fazia questão de lembrar de atitudes como estas, e assim colocar seu ego no mesmo lugar que sempre tentava manter.

nas músicas encontrava a mulher com quem sonhava passar um tempo, e trocava aquelas como quem troca os dias que quer ver do próprio futuro. acreditava que, na proporção que ouvia as diferentes músicas, existiam várias mulheres que ele sonhava encontrar em uma só. ainda não sabe a levada que ela poderá ter, e procura artistas novos desesperadamente por ter certeza que ainda não a conhece.

ah, também acreditava ter nos filmes as cenas da sua vida reproduzidas. em cada filme de drama, um conflito pessoal que passará um dia; e em qualquer romance ou mesmo beijo que fosse, reprodução sem direitos autorais das noites acordadas de amor que um dia terá com sua música preferida.

é, ele não gostava nem um pouco da idéia de sonhar com alguma coisa ou com alguém. só que difíceis foram ''as elas'' que, mesmo com uma pequena atenção durante o dia, não o tivessem feito acordar de um sonho feliz; ou que tornaram seus banhos ensaios de um futuro compromisso mais sério, que surgiria depois de uma noite muito bem planejada.

queria apenas achar o porque de, de repente, ficar totalmente quieto; sem conseguir e sem tentar pensar em nada. se convenceu por um tempo que ficar em silêncio talvez signifique entender algo, mesmo que não saiba o que esse algo seja. e as vezes passava tempos com o olhar em nada e a cabeça em lugar nenhum.

na real, ninguém sabia o que ele realmente pensava.

podia ficar lá sentado, com alguma música no ouvido e o olhar bem perdido, pensando porque sua pele era tão seca. quando andava com passos mansos e sorrisos sem dentes, também nunca achei que fosse mais do que cena; queria sim era parecer alguma coisa que não é. enfim, ficar com alguma coisa no ouvido era mais do que suficiente pra deixar tudo naquela levada mais leve que aquele algo lhe causava.

no fundo, ele queria logo encontrar o som certo. a música que conseguisse roubar sua atenção sempre, e não só no primeiro minuto; e não só na primeira vez que a admirasse olhando séria pra frente; e não só nas vezes que lhe dava vontade; e não só quando via nela o que pensava ser o certo para aquele momento; e não só quando tudo em volta não fazia tanto sentido quanto aquilo.

agora, até que seu silêncio não me soa assim tão alarmante. sua maneira de pensar que não pensava na maneira de levar a vida; eu respeitava sempre, procurava entender sempre. principalmente quando era só uma...


''Gonna rise up, bringing back holes and dark memories.

Gonna rise up, turning mistakes into gold.''

Eddie Vedder - Rise