As pessoas passam. Lá de longe são quase pequenas. Somem em árvores, em muros que encaram minha janela. Não sei pra onde vão, nem mesmo se ainda as são quando voltam quase não tão pequenas quanto antes, indo embora no mesmo tempo que resolvem voltar. Quem sabe pra quem foram, pra que voltam enquanto poderiam ficar consigo mesmas, entre aqueles muros e árvores. Ir pra frente sempre soa melhor do que voltar. Outras pessoas, e talvez de lá eu também passe e volte, ainda que parado na minha fumaça, mesmo que ainda comigo, deste lado da calçada. Daqui os passos têm som das gotas de fim de chuva.
Quando concentro minhas ideias, quando consigo perder meu olhar na luz doente do poste, volto como que lembrança desavisada, puxado pela mão de criança que solta da mãe pra atravessar as avenidas de outros tempos. Se fosse um filme, me imagino sentado em uma sala de paredes brancas, em frente a um quadro que se mexe conforme a pintura que o encara, que separa duas calçadas de olhares eternos e intermitentes.
Tenho medo, avanço o sinal. Impulso é vontade virgem, desejado pelas ideias que moldam pra ter seus segundos diante dos olhos, como peixe que surge no aquário de assim, de passe de mágica.